sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Descobrir as Riquezas de África de “Machimbombo” ou “Chapa”



Ao sobrevoar a cidade de Maputo reparei no contraste de castanhos, brancos e verdes e na metrópole que parecia traçada a régua e esquadro, tal como havia lido.
Maputo, antiga Lourenço Marques, por sua vez, é uma cidade garrida com alma colorida; pintada pelas vestes das mulheres, a capulana e pelos batiks (panos pintados), decorada pelo comércio tradicional; frutos, vegetais, esculturas e outras mercadorias espalhadas nas bermas das estradas.



Nos seus tempos áureos houve quem lhe chamasse a Nova Iorque de África, devido à sua imponência e organização.

Mas 25 anos de guerra civil deixaram-lhe mazelas: os edifícios coloniais precisam de restauro, as estradas necessitam de ser alcatroadas e os passeios de pedra da calçada esperam ser calcetados, pois estão gastos pelos transeuntes.


Chegámos e fomos abordados por Shana, que se prestava a levar-nos ao Hotel, no seu carro vermelho com bancos forrados a pele de vaca. Dada a simpatia, discutimos o preço (visto não ter taxímetro) e lá fomos.

O trajecto revelou-se bastante animado, por entre choupanas, enquanto ouvíamos a rádio local sintonizada num programa que debatia o uso do preservativo. As intervenções dos ouvintes no programa eram hilariantes, de partir o coco a rir, e as gargalhadas de Shana contagiantes.
No dia seguinte, alugámos um “chapa”, uma carrinha Toyota Hiace (9 lugares), que convencionámos chamar de “machimbombo” (gostámos do termo) para nos deslocarmos e partirmos à aventura por terras africanas.
"Machimbombo" é o autocarro (54 lugares), normalmente utilizado para deslocações entre cidades ou da cidade para os arredores. Caracterizado pelo estado de sobrelotação humana e pelo fumo que emana.
E no “machimbombo” de Chambule (proprietário e condutor) com a indispensável ajuda de Dércio (guia), iríamos conhecer as riquezas de Moçambique.
As praias
Apesar de Moçambique ser um país em vias de desenvolvimento, o turismo tem crescido muito nos últimos anos, devido à beleza das suas praias e ao clima maravilhoso.
Os lugares mais interessantes para passar férias em Moçambique encontram-se na zona do litoral, nas extensas praias de areia branca, sobretudo nas grandes cidades e nas proximidades destas. Cidades como Maputo, Quelimane, Nampula, Inhambane, Pemba, Xai-Xai e Beira, são as mais procuradas.


Localizadas na província de Gaza ficam duas das praias mais famosas de Moçambique. A praia do Bilene é uma bonita praia de areia branca numa espécie de ria, a água não é tão salgada e tem uma tonalidade diferente






A alguns quilómetros, fica a praia do Xai-Xai com um recife que protege a praia da ondulação marítima tornando-a serena.

artesanato
É paragem obrigatória a Feira de Artesanato de Maputo, a feira do pau. Todos os Sábados, reúnem-se mais de 100 artesãos que mostram tradições e técnicas de diverso artesanato africano
Aqui, pode-se apreciar a mestria na arte de trabalhar o marfim e madeiras, como pau-rosa e pau-preto, muito utilizado no fabrico de peças, como animais, bustos e estatuetas, quinquilharias e instrumentos musicais.



Infelizmente, o pau-preto está em risco de extinção. Muitos artesãos, já se consciencializaram, trabalham com outras madeiras e posteriormente passam uma tinta, para dar um "efeito pau-preto".
A feira é também invadida pela cor das capulanas, panos coloridos que as mulheres moçambicanas usam como vestido, saia ou lenço. É com eles que prendem os filhos pequenos à anca ou às costas, consoante a ocasião. A diversidade de motivos e o grande colorido que caracterizam as capulanas, atestam a riqueza cultural do país.

O desenvolvimento do comércio de longa distância, particularmente com comerciantes asiáticos, trouxe para a África Oriental uma variedade muito grande de tecidos, incluindo a capulana. Trocavam-se esses tecidos, geralmente, por produtos de grande valor comercial como ouro, marfim e escravos.
E pelos tradicionais "batiks". O batik é um pano pintado, ilustrando situações de vida locais. Normalmente de cores vivas, com motivos africanos, formas abstractas e padrões geométricos variáveis.


A gastronomia
A culinária moçambicana resulta de uma rica fusão de diferentes culturas, histórias e sabores que se cruzam entre África, o Oriente e a Europa.
Desta mestiçagem resultaram pratos como o caril de caranguejo, o frango com amendoim, os camarões grelhados à moçambicana, o Funge (um acompanhamento culinário típico de Angola e de Moçambique) e muitos mais, que podemos experimentar para variar o nosso cardápio gastronómico.
Seguindo pela Marginal, a via à beira-mar, alcança-se o Costa do Sol, ícone da gastronomia moçambicana. Ali, na varanda Art Deco, saboreia-se o misto de mariscos à moda da casa.
Os mercados
O Mercado Central de Maputo está bem abastecido de simpatia, mas também, obviamente, de fruta e legumes, onde sobrevivem balanças que dariam belas peças de museu e humorísticos cartazes a garantir a excelência dos produtos.


Em matéria de mercados, há outro lugar incontornável na capital moçambicana, o mercado do peixe. Um cenário popular por excelência: apelos de vendedoras e vendedores, mares de amêijoa e graúdos espécimes piscícolas vindos dos viveiros do Índico.


A música
A música de Moçambique é uma das mais importantes manifestações de cultura deste país. A música tradicional tem características bantu e influência árabe, principalmente na zona norte e, como tal, é normalmente criada para acompanhar cerimónias sociais, particularmente na forma de dança.
A noite
Dercio, o amigalhaço guia, levou-nos a conhecer a diversão nocturna na cidade de Maputo.


Começámos por ir ver uma Passagem de Modelos, que apresentava a colecção de um novo talento moçambicano. As cores quentes dos tecidos flutuantes dançavam ao ritmo africano. Estava vidrada com a magia do espectáculo. Pena não ter levado máquina fotográfica para registar aquelas imagens.


Depois fomos a um bar africano. Quando entrámos, olharam-nos como se fossemos aliens, ficámos receosos, mas Dercio fez sinal para estarmos tranquilos. Assim foi ... magnífico. Passado um bocado, já enturmados, balançávamos o corpo ao ritmo Reggae.


Seguimos para o Coconuts, a discoteca mais descontraída que frequentei. Nos jardins exteriores, a música tropical e os ritmos africanos eram contagiantes.
Fomos recebidos, por amigos de Dercio, de copo na mão e como elementos da família.


E seria estranho se assim não fosse. Este é um povo de pródiga comunicação, de generoso verbo que soa como uma música familiar que nos faz sentir em casa.
Às 5 da madrugada, e muito contrariados, tivemos que interromper a noite.


Uma hora depois (às 6 da matina), estaria o “machimbombo” (como o baptizámos, mas que era um chapa) à porta do Hotel para irmos para a África do Sul.

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